sábado, 19 de fevereiro de 2011

Página de um diário


            Coimbra, 14 de Março de 2010
            Quando acordei de manhã reparei que estava ansioso, uma ansiedade inquieta que me causava dificuldades em respirar. Ofegante e cansado logo pela manhã. Podia dizer-se que sofri por antecipação.
            Era um dia primaveril, talvez banal como tantos outros. O sol brilhava, mas não era aconchegante, pois corria ainda uma desagradável brisa de Inverno, que no entanto não afrontava a possibilidade de um passeio pela margem do rio. Lá, o reflexo do sol trazido pela tal brisa aquecia os corações mais desligados da vida afectuosa. E àqueles que como eu, acreditavam no amor, trazia um sorriso parvo, ingénuo, mas verdadeiro.         
            Não havia qualquer pressa, a ansiedade era agora dominada pela incapacidade de dizer coisas acertadas e talvez o silêncio procurasse apenas as palavras que dizemos com os olhos, essas, as mais sinceras. Tinha-se tornado claro. O dia 14 de Março não era um dia banal. O tempo não voava. Nós é que voávamos com o tempo.
            A rapariga que caminhava ao meu lado desfrutava de uma aparente calma que eu invejava, era confiante tal como o seu sorriso tão seguro e inigualável. Tagarelava bastante acerca de tudo e tinha resposta para tudo. A minha ansiedade derivava não só do propósito do nosso passeio pela margem, mas também da misteriosa personalidade daquela rapariga. De facto, penso que seria mesmo impossível exprimir em palavras, tal como a sua beleza, o seu rosto, as suas mãos, os seus olhos. Talvez o meu sorriso dissesse mais do que as palavras poderiam dizer.
            Quando fiz a pergunta olhava-a fixamente nos olhos, tanto que nem ouvi a resposta à primeira. Nem precisava. Aquela rapariga gritava com os olhos a resposta e após o beijo, olhei-a de novo naqueles olhos tão castanhos, tão simples, tão meus.

            Gonçalo Coimbra, Janeiro de 2011
            Nº14
            10ºH 

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