sábado, 19 de fevereiro de 2011

Auto-retrato


Quem sou eu?
            Juro que não sei quem sou. Sei que não sou o que quero ser. Como poderia? Eu tão perfeito e imperfeito. Nem asas quero para voar, apenas a minha caneta e o mais medíocre pedaço de papel. A eloquência dos meus livros, a minha escrita elementar, a minha doce, doce ignorância. Que bom ser ignorante e querer saber tudo e não saber nada. Mas eu procuro!                      
            Pessoa disse repleto de razão "A literatura é a melhor prova de que a vida não chega", sublinho não chega. Mergulhei na literatura e vivo cansado, ofegante, quase afogado numa loucura, delirante. Vivo entre as vírgulas, não quero sair. Não vou sair. Que bom ser ignorante e que *merda* ter de pensar no meu morrer, no meu miserável fim. Vida injusta, traiçoeira. Deus cobarde que nem me fala. Medo? Não tenho, mas não quero morrer. Quero ser personagem e viver num livro toda a eternidade.    
            Não sou o que quero ser. Sou o que fui pintando, sem saber pintar "e só com o saber invisível dos dedos se pode alcançar o quadro infinito dos sonhos", disse o 'meu' Saramago. Quero pintar esse quadro, aliás sou para pintá-lo, será o meu desejo, talvez o único. Terei eu esse saber? Não sei, é invisível. Terei de procurar. (é invisível, eu sei, e depois? Eu vou pintar o quadro e tu não).   
            "Amo a terra, a vida e as mulheres", escrevi eu num poema no fervor da minha adolescência. Amarei sempre pois é disso que a minha caneta vive. Este sou (talvez) eu. Escritor, leitor. Amante da vida. Poeta do meu ser.



Gonçalo Coimbra 

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